Me pego a pensar nessas figuras travadoras do nosso Sertão, sem pretensão alguma de nada, onde só a sensibilidade dos seus versos é espanejada por aí... esses sujeitos, caprichosamente agraciados com a graça dum fazer poético que num tem um dedo médio de frescura. Quem me dera ser assim, quem me dera...
Quem me dera ter o dom
De um Patativa do Assaré
Nas vizinhança de Tabira
Ser um ilustre tal Dedé
Ser do mato e dos barreiros
Ter no berro dos carneiros
A voz de seu Jessier.
Quem me dera fosse até
Um dos grandes desse Norte
Ser na prosa, ser nos versos
Ser apenas mais um forte
No poema polido, um diamante.
Ter a honra de um gigante
E ser lembrado após a morte.
Já que não tive a sorte
De ser poeta profundo
A esmo vou caminhando
E seguir sendo Raimundo
Sem deixar de versejar
E insistindo em cantar
As cantigas desse mundo.
E esse poema moribundo
Já condenado a definhar
Cairá no esquecimento
Sem ninguém sequer lembrar
Mas exala em seu velório
Na ausência de auditório
O seu cheiro singular...
Mesmo se o aplauso faltar
Quando se fecha a cortina
Que o meu verso se espalhe
Nessa estrada peregrina
Que se jogue em cada curva
E beba da água turva
Dessa arte clandestina.
(Raimundo Cajazeira)
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